[tweet]Não raro, em decomposições ingênuas de um sistema monolítico, os módulos do monólito ressurgem como conjuntos interdependentes de microsserviços, apenas onerando a operação.[/tweet] De tão conectados, não raramente uma modificação em um desses microsserviços implica na alteração de outros (changing coupling) tornando a fragmentação difícil de justificar.
Por mais que se tome cuidado no processo de elaboração da arquitetura, muitas vezes são as estruturas organizacionais, formadas a partir de áreas de especialidade, que levam times a desenvolver microsserviços que atendem apenas demandas locais.
Na prática, as “comunidades” da organização tendem a se replicar na estrutura dos serviços criando pontos de interface restritos com alta centralidade.
Veja também
- “Centralidade” elevada indica estresse de um microsserviço e fragilidade de um sistema distribuído
- Manual do CTO: Conway’s law
De qualquer forma, é importante recordar que microsserviços de boa qualidade implementam, de forma desacoplada, capabilities das organizações. Logo, deveriam ser úteis muito além das fronteiras dos times que os desenvolveram, reduzindo a centralidade e, de maneira geral, colaborando para mitigação de pontos de fragilidade.
A identificação de “comunidades de microsserviços” pode e deve ser facilitada pelo acompanhamento dinâmico e contínuo dos coeficientes de agrupamento local.
Coeficiente de agrupamento local
Na teoria dos grafos, o coeficiente de agrupamento (clustering coefficient) mede o grau com que os nós de um grafo tendem a agrupar-se.
O coeficiente de agrupamento local de um vértice (nó) num grafo mede o quão perto os seus vizinhos estão de serem um clique (grafo completo). Por outras palavras, pode dizer-se que o coeficiente de agrupamento local mede o grau da densidade de ligações da vizinhança de um determinado nó, isto é, corresponde ao grau com que os vizinhos de um nó se interligam.
O coeficiente de agrupamento local de um microsserviço é calculado como sendo a proporção das ligações existentes entre os microsserviços que este acessa em relação com o total das ligações possíveis. Quando maior for o coeficiente, maiores são os indícios de formação de “comunidade”.
Quanto maiores forem os coeficientes de agrupamento local, por correlação, maiores são as chances de changing coupling que podem ser verificados nos controles de versão. Consequentemente, mais intensos devem ser os questionamentos quanto ao “reagrupamento” das bases de código.
A comprovação sistemática e recorrente de coeficientes de agrupamento elevados deve implicar em estudos mais aprofundados das causas. Não é incomum que a formação de “comunidades de microsserviços” indique deterioração no relacionamento entre os times da organização e, disto, a demanda por revisões da estrutura organizacional. Outra possibilidade é que o “olhar” dos times, embora com sistemas distribuídos, permaneça “viciado” em uma estrutura monolítica, indicando ações de desenvolvimento de pessoas das equipes técnicas.