[tweet]Programas de computador não são criativos, humanos são! Essa é a forma vigente de enxergar tecnologia no cotidiano das pessoas e na transformação de negócios. Entretanto, há bons motivos para que comecemos a pensar de maneira diferente.[/tweet]
***
Desde 1997, humanos não são capazes de derrotar computadores no jogo de xadrez.
A forma como engines – programas de computador que jogam xadrez -, são desenvolvidas, tradicionalmente, busca “simular” o jeito humano. A intuição, nas máquinas, foi originalmente substituída por heurísticas – grosseiramente, uma forma mecânica de fazer palpites – e pelo acesso a gigantescas bases de dados que compilam tudo que sabemos sobre o jogo, incluindo todas as partidas registradas dos melhores humanos, em todos os tempos.
O poder brutal, crescente de maneira exponencial, da capacidade de processamento e armazenamento dos computadores modernos tornaram computadores imbatíveis. Assim, de adversários, eles passaram a servir como “recursos de treinamento” para humanos.
Modernamente, o projeto Stockfish é, talvez, o melhor engine de xadrez já desenvolvido da maneira tradicional. O sistema “simula” tão bem o comportamento humano que, de muitas formas, podemos assumir que “humano mais forte”, pelo menos jogando xadrez, é um computador!
***
Nos últimos anos, entretanto, começou a ganhar destaque outra abordagem para fazer computadores jogarem xadrez. No lugar de contar com imensas bases de dados e heurísticas avançadas, em um movimento iniciado por um laboratório de IA da Google, optou-se por desenvolver uma inteligência artificial que soubesse apenas as regras básicas jogo com a finalidade de testar as capacidades de algumas tecnologias experimentais. A ideia é que essa inteligência artificial aprendesse, a partir da prática e não da “simulação humana”, jogando, sozinha, milhões de partidas, o que funciona e o que não funciona no tabuleiro. A cada partida jogada, a cada erro de avaliação, a cada partida vencida e a cada acerto, a inteligência artificial aprenderia mais sobre o jogo.
Nesse cenário, além da capacidade de processamento e armazenamento, o crescimento exponencial da conectividade passou a fazer diferença. Milhares de “instâncias” da inteligência artificial. em milhares de dispositivos, aprendendo de forma contínua e incansável.
O projeto AlphaZero, da Google, e o projeto Leela são dois bons exemplos de inteligências artificiais desenvolvidas nos termos que descrevemos aqui.
***
Atualmente, o projeto Leela tem força relativa equivalente ao Stockfish. Enquanto isso, o AlphaZero parece “esmagar”, por muito, seu adversário mais convencional (embora existam contestações sobre o formato em que as disputas entre eles ocorreram).
O mais intrigante, de qualquer forma, é que, enquanto o Stockfish jogue em estilo compreensível e similar ao que os melhores jogadores humanos, Leela e AlphaZero são extremamente originais, com lances extremamente difíceis de entender. O computador não é mais “o humano mais forte”, mas, sim a expressão de algo absolutamente novo, incompreensível e ainda mais imbatível.
[tweet]Primeiro, os computadores se tornaram melhores do que nós, humanos, jogando, do nosso modo, de maneira mais precisa. Agora, computadores são melhores do que nós, jogando, do modo deles.[/tweet]
De muitas formas, as heurísticas imitando o pensamento humano e a base de conhecimento sobre o que sabemos sobre o jogo limitavam a capacidade dos computadores de jogar melhor. Leela e AlphaZero jogam de maneira original e, por que não dizer, criativa.
***
[tweet]Acreditamos que se uma tarefa pode ser automatizada ela será. Isso é apenas questão de tempo![/tweet] Recentemente, o projeto Debater, da IBM, assombrou o mundo com uma inteligência artificial capaz de enfrentar humanos em concursos de retórica.
O fato é que o uso de tecnologias está extrapolando, há tempos, a visão de fazer mais, mais rápido, mais barato. Estamos chegando a um nível de sofisticação onde as máquinas conseguem, sob muitas perspectivas, serem criativas. [tweet]Mais do que automação, precisão e escala, estamos no limiar da “criatividade cibernética”.[/tweet]
No mundo dos negócios, já é consciência para muitas empresas que tecnologia é competência fundamental. Entretanto, é preciso ir além. A discussão sobre tecnologia precisa ter lugar na alta gestão, sobretudo conselhos e presidências. O disruptivo, que até outro dia era exceção, está se convertendo em regra.
O que acontece quando as inteligências artificiais fizerem mais do que jogar xadrez? O que acontece com seu negócio?