Um dos estudos científicos mais famosos e referenciados de todos os tempos, o “teste do marshmallow”, teve suas conclusões contestadas por décadas e, hoje, estas conclusões já são consideradas incorretas.
Segundo o estudo, existiria uma relação forte entre a capacidade de crianças resistirem a tentação de comer um doce e o sucesso dessas crianças, mais tarde, na fase adulta.
Teste do Marshmallow
O Experimento do marshmallow se refere a uma série de estudos de recompensa postergada, realizados no final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970 liderados pelo psicólogo Walter Mischel, então professor da Universidade de Stanford. Nos estudos era oferecido a crianças a escolha entre uma pequena recompensa (algumas vezes um marshmallow, mas também um cookie ou um pretzel, etc.) entregue imediatamente ou duas pequenas recompensas se ela esperasse até o retorno do pesquisador (depois de uma ausência de aproximadamente 15 minutos). Em estudos de seguimento, os pesquisadores descobriram que as crianças que foram capazes de esperar por mais tempo pela possível recompensa apresentaram tendência de ter melhor êxito na vida, conforme mensurado por SAT scores, desempenho escolar, índice de massa corporal (IMC) e outros parâmetros de medição.
A dinâmica empregada no estudo foi reproduzida algumas vezes. Entretanto, os resultados obtidos jamais foram os mesmos do esforço original. O problema, agora evidente, das premissas deste estudo foi a redução de cenários complexos, influenciados por multiplos de fatores, todos variáveis, em simples. A causalidade que o estudo afirmava ter identificado não se demonstrou mais do que simples correlação.
O curioso, entretanto, é que, mesmo incorreto, o teste do marshmallow ainda é mencionado de forma insistente, sobretudo pelos devotos ao culto da prosperidade. Para eles, trata-se de uma evidência científica da existência de características inatas simples que conduzem ao êxito.
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Importante que entendamos que a refutação do teste do marshmallow não depõe contra a ciência, tampouco contra o autor do estudo. Afinal de contas, a falseabilidade é premissa cientifica. A contestação de hipóteses, através de antíteses, culminando em sínteses, é a essência do método de construção do conhecimento científico. Entretanto, é surprendente como, talvez pelo viés de confirmação, as conclusões incorretas um estudo continuem influenciando o pensamento de tantas pessoas.
Seja nas empresas, na gestão de nossas carreiras ou em nossos relacionamentos, muitas vezes, partimos de premissas simples, elegantes e poderosas. Infelizmente, não raro, elas não se sustentam.
[tweet]Para todo problema complexo, existe uma solução simples, elegante e completamente errada (Mencken)[/tweet]
A refutação bem sucedida de um estudo tão famoso, combinada com o uso desinformado de suas conclusões, demonstra a fragilidade de alguns de nossos métodos e crenças. [tweet]Temos que estar atentos para não basearmos novas iniciativas em ideias ruins e requentadas.[/tweet]
Difícil que seja, provavelmente tenha escrito antes, mas não consigo deixar de pensar que seja resposta a um vídeo que andou circulando esses dias em certas comunidades com muito sucesso, cheio de falácias sem contar mentira alguma 😀