Dando continuidade ao artigo “Da Automação à Cognição: A Nova Fronteira da Inteligência Artificial“, onde discuti a transição da IA como automação para a IA como ampliação da cognição, é importante agora olhar para os fundamentos que tornam isso possível.
Quando falamos de inteligência artificial cognitiva, não estamos apenas tratando de algoritmos ou modelos matemáticos. Estamos falando de algo mais profundo: a capacidade de uma máquina refletir, provocar e ampliar o raciocínio humano. Para chegar a esse nível, precisamos nos apoiar em três pilares fundamentais: filosofia, psicologia e neurociência.
Na masterclass “DDD em tempos de IA: Clonando o seu “especialista de domínio” no ChatGPT“, comentei que a IA cognitiva exige uma mudança de mentalidade: ela não nasce da soma de linhas de código, mas da compreensão do próprio pensamento humano. E para compreender como pensamos, precisamos desses três campos de conhecimento que, em conjunto, oferecem um mapa completo do que nos torna seres cognitivos.
Filosofia: o olhar sobre o sentido e a metacognição
A filosofia sempre foi o campo que nos convida a questionar: por que pensamos como pensamos? Como sabemos o que sabemos? E, principalmente, como podemos refletir sobre o nosso próprio ato de pensar? É nesse ponto que a filosofia se torna indispensável para a IA cognitiva.
Na prática, é a filosofia que nos dá as lentes da teleologia (o porquê), da ontologia (o quê) e da epistemologia (o como). Essa tríade filosófica, que detalharei mais no próximo artigo, fornece a estrutura para que possamos criar contexto em agentes de IA. Não é possível espelhar o raciocínio humano sem antes compreender qual é o sentido, a natureza e o método desse raciocínio.
Como comentei na masterclass, a filosofia nos dá não apenas o conteúdo, mas sobretudo a forma do pensamento. É ela que prepara o terreno para que o raciocínio seja decodificado, estruturado e, então, ampliado por um agente cognitivo.
Psicologia: compreender o comportamento e os vieses
Se a filosofia nos mostra a estrutura do pensamento, é a psicologia que nos ajuda a entender como esse pensamento se manifesta no comportamento humano. Somos seres atravessados por vieses cognitivos, heurísticas e atalhos mentais que moldam nossas escolhas e percepções.
Na masterclass, usei o exemplo da heurística da ancoragem para ilustrar como uma simples referência inicial pode influenciar toda uma decisão. A psicologia cognitiva nos revela essas armadilhas invisíveis, permitindo que os agentes de IA sejam projetados não apenas para refletir nossas forças, mas também para evidenciar e confrontar nossos pontos cegos.
A psicologia, portanto, funciona como um espelho do nosso funcionamento mental em situações reais. Ela ensina a IA a não apenas reproduzir raciocínios, mas a provocar reflexões que ajudem o operador humano a escapar de automatismos e expandir sua consciência.
Neurociência: os sistemas que regem o raciocínio
Nenhuma discussão sobre cognição estaria completa sem a neurociência. É dela que aprendemos sobre os sistemas de raciocínio rápido e lento, apresentados por Daniel Kahneman como Sistema 1 e Sistema 2. Esses sistemas revelam como os humanos tomam decisões: ora por intuição imediata, ora por análise deliberada.
Na construção de agentes de IA cognitivos, essa distinção é essencial. Precisamos de sistemas que saibam operar em ambos os modos: rápidos e automáticos em contextos simples, mas analíticos e reflexivos em contextos complexos. A neurociência nos dá o mapa de como calibrar essas duas dimensões no design de espelhos cognitivos.
Como disse na masterclass, “não basta ensinar a máquina o que pensar, precisamos ensiná-la como nós pensamos”. Essa diferença é o que permite à IA não apenas executar, mas simular a lógica humana de forma mais orgânica.
A integração dos três pilares
Isoladamente, cada um desses campos já oferece contribuições valiosas. Mas é na integração entre filosofia, psicologia e neurociência que encontramos a base real para uma IA cognitiva. Juntos, eles permitem compreender o sentido do pensamento (filosofia), o funcionamento prático do comportamento humano (psicologia) e a estrutura biológica que o sustenta (neurociência).
Essa integração interdisciplinar é o que garante que os agentes cognitivos não sejam apenas sofisticados do ponto de vista técnico, mas também significativos do ponto de vista humano. É o que transforma a IA de uma ferramenta de automação em um parceiro de raciocínio.
O próximo passo: a filosofia aplicada na IA
Encerrando este segundo artigo da série, reforço a ideia de que filosofia, psicologia e neurociência não são apenas inspirações conceituais, mas fundamentos práticos para a criação de agentes de IA cognitivos.
No próximo artigo, vamos mergulhar mais fundo em um desses pilares: a filosofia. Vou explorar como a tríade teleologia, ontologia e epistemologia se transforma em uma metodologia poderosa para criar contexto e estruturar o raciocínio de agentes cognitivos. É nessa tríade que a filosofia deixa de ser abstrata e passa a ser aplicada como arquitetura da IA.
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