Introdução
Modernizar um sistema legado é como trocar o motor de um avião… em pleno voo. A operação é arriscada, o tempo é curto e o passageiro (o negócio) não pode parar.
Diante disso, a solução mais comum e mais perigosa, ainda é a mesma: “Vamos jogar tudo fora e reescrever do zero.” O famoso Big Bang.
Mas o que começa como um projeto de um ano, muitas vezes se arrasta por três ou quarto — e o pior: sem linha de chegada à vista. No fim, a empresa investe tempo e dinheiro para acabar com um novo sistema… que já nasceu legado, só que com uma tecnologia mais moderna.
O risco é alto. O custo é maior ainda. Felizmente, existe um caminho mais seguro: o Strangler Fig Pattern.
Por que o Big Bang é uma aposta perigosa?
Porque se apoia em duas ilusões:
- Que o sistema legado pode ser totalmente compreendido.
- Que a nova plataforma será construída sem falhas.
Na prática, sabemos que isso raramente acontece. Logo no início, surgem travas por todos os lados:
- a equipe entra em paralisia por análise,
- se perde em tecnologias novas,
- o sistema antigo continua mudando,
- o novo herda velhos vícios,
- e o negócio perde a paciência — e a confiança.
No fim, a empresa pode ter investido milhões… para voltar ao mesmo lugar, só que com uma nova “roupagem” tecnológica.
Strangler Fig: modernize sem parar o negócio
Inspirado na figueira estranguladora, o padrão Strangler Fig propõe uma abordagem oposta ao Big Bang.
Em vez de substituir tudo de uma vez, você começa criando novas funcionalidades ao redor do sistema legado, intercepta chamadas e, aos poucos, redireciona o fluxo para a nova implementação.
A cada passo, uma parte do antigo é substituída por algo novo — de forma segura, incremental e validada em produção.
Cada avanço é:
- pequeno o bastante para reduzir riscos,
- grande o suficiente para gerar valor,
- e sempre alinhado ao ritmo do negócio.
Assim, você moderniza com controle, entrega valor contínuo e evita os riscos do tudo-ou-nada.
Por onde começar? Primeiros passos práticos
A teoria é elegante, mas a execução exige pragmatismo.
❌ Evite começar por entidades técnicas: Um erro comum é criar um “serviço de cliente”, “serviço de produto” etc. Isso costuma replicar o acoplamento do banco de dados em nível de serviço.
✅ Prefira processos de negócio: Use o pensamento de Domain-Driven Design para delimitar contextos. Exemplo:
- Ruim: microsserviço de cliente
- Bom: processo de “pagamento de contas” ou “baixa de estoque”
Focar em processos reais torna o valor mais explícito e as fronteiras mais coesas.
Cuidado com a granularidade
Criar dezenas de microsserviços de uma vez pode gerar um caos orquestrado. Comece com um recorte pequeno, de alto valor, e aprenda com ele antes de escalar.
Conclusão
A modernização de sistemas legados não precisa (nem deve) ser uma ruptura. O Strangler Fig oferece uma forma disciplinada, pragmática e segura de evoluir.
Não é mágica. É uma estratégia sustentável baseada em aprendizado contínuo e entregas frequentes de valor.
Takeaways
- Big Bang é aposta de alto risco: paralisação, reescrita interminável e retorno duvidoso.
- Strangler entrega valor contínuo: cada parte modernizada é uma vitória em produção.
- Foco em processos, não em entidades: evite criar monolitos distribuídos.
- Moderação na fragmentação: muitos serviços pequenos = complexidade desnecessária.
- Modernização é uma parceria: precisa do apoio e do entendimento do negócio.