Quantas vezes encontramos pessoas absolutamente seguras de suas capacidades mas que, na prática, se mostram ingenuamente incompetentes? Infelizmente, a frequência é grande e os prejuízos são enormes, não só para essas pessoas, mas para as organizações onde elas trabalham.
Um homem com cerca de 45 anos invade sozinho, armado, uma agência bancária. Ameaça a atendente do caixa exigindo o dinheiro. Funcionários, guardas e clientes ficam aterrorizados. O assaltante, entretanto, se mantém calmo e parece extremamente confiante.
Mais tarde, no mesmo dia, o mesmo homem assalta outra agência bancária seguindo o mesmo método. Mais uma vez, chama a atenção como ele consegue manter a calma e a confiança.
O curioso é que o assaltante não usa nenhuma máscara ou disfarce. O seu rosto está completamente visível para todos, incluindo as câmeras de segurança!
O bandido não adotou nenhuma abordagem surpreendente ou engenhosa. Na verdade, foi relativamente fácil identificá-lo e prendê-lo, mais tarde, em casa.
Surpreso, enquanto era conduzido, ele exclamava que havia se banhado de suco de limão! Em sua lógica, se suco de limão funciona como “tinta invisível”, pelo menos em experiências escolares e brincadeiras infantis, então deveria ser suficiente para torná-lo invisível também.
Esta história, embora absurda, é real. Aconteceu em 1995 e o nome do bandido é McArthur Wheeler. Segundo a polícia, ele não é louco nem estava drogado. Parece que ele estava apenas incrivelmente enganado.
A estranha relação entre a percepção e a realidade das competências das pessoas motivaram os estudos de David Dunning e Justin Kruger. Suas conclusões lhes renderam um Ig Nobel, e os colocaram em evidência pela descrição de um “efeito” que leva seus nomes.
O efeito Dunning-Kruger é o fenômeno pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais que outros mais bem-preparados, fazendo com que tomem decisões erradas e cheguem a resultados indevidos; é a sua incompetência que os restringe da habilidade de reconhecer os próprios erros. Estas pessoas sofrem de superioridade ilusória.
Em contrapartida, a competência real pode enfraquecer a autoconfiança e algumas pessoas muito capacitadas podem sofrer de inferioridade ilusória, achando que não são tão capacitados assim e subestimando as próprias habilidades, chegando a acreditar que outros indivíduos menos capazes também são tão ou mais capazes do que eles. A esse outro fenômeno dá-se o nome de síndrome do impostor.
Nas organizações, as consequências do efeito Dunning-Kruger podem ser devastadoras. Afinal, de um lado, incompetentes, certos de suas convicções, podem acabar liderando as empresas para direções incorretas, enquanto, do outro lado, pessoas capacitadas acabam pecando pela omissão.
Não apenas as pessoas incompetentes chegam a conclusões incompetentes e fazem escolhas infelizes, mas sua incompetência lhes rouba a capacidade de perceber isso. – Kruger
Não há soluções simples para as dificuldades causadas pelo efeito Dunning-Kruger. Entretanto, algumas medidas simples podem ajudar a mitigar seus riscos:
- Determinar formas objetivas de avaliar sucesso e insucesso das iniciativas organizacionais. Quanto menor o espaço para a subjetividade, menores são as chances que decisões infelizes perdurem por mais tempo.
- Estabelecer a cultura do acompanhamento dos resultados. A verificação sistemática acaba evidenciando a incapacidade de gerar resultados daqueles iludidos quanto a sua real capacidade.
- Buscar sustentar as tomadas de decisão em dados
[tweet]A ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento.[/tweet] É necessário que tenhamos humildade para agir de maneira prudente quando algo nos parecer “certo demais”.
Se juntarmos a isso o princípio da incompetência de Peter, teremos um ótimo cenário para a ineficiência de uma empresa. Me parece que o modelo de gestão democrática faz sentido no combate de tais problemas