Sabe aquela história infantil que narra a corrida entre uma lebre e uma tartaruga? Na era digital, bem que ela poderia ganhar uma nova versão, na qual a lebre levaria a competição a sério e completaria o percurso antes mesmo da adorável tartaruga começar a se mover. Deste modo, talvez sejamos mais eficazes em orientar as novas gerações sobre a urgência de redefinirmos nossos parâmetros de produtividade. Para isso, o conceito “fazer mais com menos” é o mais prático e aceitável.
Do clássico infantil para a vida real, recentemente a China assombrou o mundo e mostrou que é possível construir hospitais enormes em pouco mais de dez dias. Levando em conta o primeiro deles, o Houshenshen, que tem área de 25 mil metros quadrados e capacidade para 1 mil leitos, os fatores planejamento, organização e produtividade foram fundamentais. O processo foi agilizado com base em construções pré-fabricadas, que reduziram drasticamente o tempo que seria gasto em uma obra convencional, porém, antes disso, foram necessários dezenas de tratores para nivelar o terreno e para assegurar a velocidade da edificação, uma equipe com 7 mil pedreiros, eletricistas, carpinteiros e encanadores, ou seja, a mão de obra e a produtividade ditaram o ritmo da construção.
Para os mais céticos, vale lembrar que o país já coleciona arranha-céus construídos em menos de um mês. Com o mesmo modelo de construções pré-fabricadas, o Mini Sky City é um prédio de 57 andares, com estrutura de 180 metros quadrados e foi construído em apenas 19 dias, em 2015. Novamente, a produtividade foi crucial para a velocidade da obra: foram necessários 1,2 mil trabalhadores, que se revezavam em seus turnos e levantavam três andares por dia.
Para ambas as construções, o segredo do sucesso não está necessariamente na quantidade de pessoas utilizadas. A chave dessas grandes obras é a tecnologia de arquitetura de pré-fabricação, que funcionou assim: com o projeto aprovado, realizado em computadores, os edifícios foram construídos em concreto “pré-moldado” fora do terreno, para depois, ser levado ao local e encaixado – dadas as devidas proporções reais, é como a montagem do Lego.
Partindo das obras asiáticas para um exemplo popular no Brasil, as TVs por assinatura registraram retração de quase 10% em 2019 devido a competição com os serviços de streaming. A Netflix é o caso mais famoso e estima-se que 12 milhões de brasileiros sejam assinantes, tornando-a a queridinha do País. Para que os vídeos cheguem às casas das pessoas, equipes de diversas áreas da tecnologia trabalham para assegurar que o processo de comunicação entre a TV, computador ou smartphone do usuário funcione em sintonia com o provedor de internet e o servidor do streaming. Essa velocidade proporcionada pela tecnologia aliada à praticidade de escolher o filme, documentário ou série no vasto catálogo da plataforma faz com que, cada vez mais, o serviço seja consumido em terras tupiniquins.
Foi por meio das facilidades proporcionadas pela tecnologia que a AirBnB, plataforma de aluguel em hospedagens tornou o compartilhamento fácil, prático e seguro. A partir da reserva realizada pelo aplicativo, não há a necessidade de deslocamento prévio das pessoas ao local em que elas desejam se hospedar, tampouco ligar para passar minutos incontáveis ao telefone para fechar uma reserva. Recentemente, a empresa atingiu valuation superior as cinco maiores redes de hotéis do mundo juntas.
O valuation da Ant Financial Services Group, orignalmente Alipay, que atua no setor financeiro há pouco mais de cinco anos, já é 50% da bicentenária e bem-sucedida JP Morgan Chase. De forma semelhante, a jovem Tesla já tem valuation superior Volkswagen e, mais que isso, maior que Ford e GM juntas.
O fato é que empresas modernas, nascidas na era digital, que atingiram representatividade em poucos anos, estão assombrando empresas tradicionais com projetos de integração com prazos minúsculos e escopos gigantes. O curioso é que muitos projetos das empresas tradicionais têm orçamento inicial superior e prazos maiores que o investimento e tempo de vidadas startups – a diferença é o resultado.
No trade-off entre a “velocidade da lebre” e a “persistência da tartaruga”, o mundo dos negócios exponenciais parece estar resoluto em não abrir mão de nada. Tartarugas letárgicas têm futuro preocupante.
“Talvez assim, sejamos mais eficazes em orientar as novas gerações sobre a urgência de redefinirmos nossos parâmetros de produtividade.”
Mas, inclusive de acordo com o próprio texto (e com os fatos que ele usa como referência) será que não podemos concluir que as novas gerações *já redefiniram* (e continuam redefinindo) os parâmetros de urgência, e que, talvez, sejam as empresas tradicionais que precisam ser orientadas a respeito das definições que já estão sendo usadas pelas empresas modernas?