O PayPal saiu na frente. O Banco Central chinês aprovou a aquisição de 70% da Guofubao (GoPay) – uma pequena companhia de pagamentos do país. Dessa forma, a empresa se destaca por conseguir romper barreiras importantes e operar na gigante oriental antes mesmo da Mastercard e da Visa.
Este é um dos muitos exemplos de como a transformação digital está revolucionando até mesmo mercados extremamente restritos e regulados. O marco também é importante para a China, pois indica a abertura do país para serviços financeiros e parcerias externas. Inclusive, o movimento que ocorreu em resposta às pressões dos Estados Unidos no embate comercial entre as duas nações, foi recebido com otimismo na comunidade internacional.
Agora o PayPal pode intermediar pagamentos online – que somaram mais US$ 29 trilhões em 2018, em moeda local – e fornecer cartões de débito para a população. Terá como maior competidora a AliPay, do grupo Alibaba, que, atualmente, domina o mercado chinês cobrando taxas muito menores do que as praticadas intencionalmente (0,5% contra 2%). Essa disputa deve acelerar a redução de taxas praticadas chegando a zero e, seguindo a visão dos especialistas em inovação digital da Singularity University, tornará a oferta dos meios de pagamento on-line definitivamente democrática.
Neste cenário certamente acompanharemos em breve a abertura de espaço para que empresas da gigante oriental, notadamente a AliPay, venham operar no ocidente trazendo para cá, provavelmente, suas margens menores, redefinindo o nível e as regras da competição. E este pode ser um dos primeiros capítulos da mudança de como interagimos com o dinheiro.
Mantendo a escrita dos 6Ds da inovação digital (digitalização, decepção, disrupção, desmonetização, desmaterialização e democratização), os meios eletrônicos de pagamento parecem ter superado o ceticismo e estão substituindo definitivamente as alternativas físicas. Cartões de plástico e dinheiro de papel estão desaparecendo. Aliás, o cartão, quando ainda é necessário, já virou software nas plataformas operacionais dos celulares. Por isso, está cada vez mais democrático. Agora, chegou a hora de todo processo de pagamento ser desmonetizado e o movimento do PayPal, que será forçado a operar em taxas mais amistosas na China e, em pouco tempo, aqui parece ser o primeiro passo nessa direção.
Vale lembrar que o PayPal, que tem entre seus fundadores Elon Musk (da Tesla e SpaceX) e Peter Thiel, foi uma das responsáveis por revolucionar os meios de pagamento, intermediando, de forma segura, a relação entre fornecedores, geralmente on-line, e consumidores. A empresa, fundada em 1998 para facilitar o pagamento no eBay, foi uma das sobreviventes do boom das ponto-com e sempre conseguiu manter sua posição reconhecida, se consolidando de maneira independente em 2015.
Estamos, mesmo, em um mundo onde as fronteiras geográficas estão ficando menos relevantes que as conexões de negócio, como descrito por Parag Khanna (um dos mais influentes pensadores modernos em geopolítica).